"O fim é só um começo."
Somos feitos de escolhas. O tempo todo estamos escolhendo entre o que ser e o que não ser. Que caminho seguir, que caminho não seguir. O que amar e o que odiar. O que segurar e o que deixar ir. Acredito que as escolhas mais difíceis são as que estão pautadas no que devemos amar ou não amar e que intrinsecamente estão ligadas em prender ou deixar partir. Tudo isso pelo simples fato de querermos a todo tempo ficar presos a sensação de felicidade e evitar qualquer dor, porque a dor é uma escolha "dolorida" demais para ser uma opção. Então, tornar-nos possessivos acaba sendo uma saída. A pior saída, diga-se de passagem, mas é a que acabamos optando no fim.
A possessividade é um dos piores crimes que podemos cometer contra o outro, porém ela é mais aterradora contra nós mesmos. Ela é uma prova de que o amor próprio já se esvaiu e que passamos a viver pela outra pessoa e não por nós, pela nossa subjetividade, resumindo nossa vida simplesmente na vida de quem prendemos, ruindo com nossa própria identidade. E o que antes era uma maneira de evitar a dor, acaba transformando-se na própria dor ainda mais intensa, levando-nos acreditar que a dor passada, que poderia estar sendo sanada hoje, está apenas começando ainda mais dolorosa, porque é uma dor que foi adiada, um sofrimento fora do tempo.
A dor é um processo da vida. Ela é inevitável. Podemos adiá-la, mas jamais iremos impedi-la de chegar. E adiar só pioram as coisas. Justamente por esse motivo é que devemos viver tudo no tempo certo. Abrir mão do que é pesado e não nos pertence mais é o primeiro passo. Chorar e deixar o processo de sofrimento seguir o seu curso é o segundo passo. A força e a superação o terceiro. Tudo sem uma receita pronta, pois elas não existem, assim como não existem marcadores de tempo que nos ensinem a passar pela dor ou saber até quando ela irá durar. No entanto, existe a possibilidade de se amar ao ponto de ter a consciência de que aquilo pelo qual se abriu mão era pesado demais e não nos pertencia.
Deixar doer faz parte daquele processo que chamamos de viver. E viver não é só sorrir e ser cheio de primaveras o tempo todo. Viver é encarar também os invernos da vida na certeza de que existem sempre novas estações para colorir o coração, além de novos sentidos e amores a serem descobertos. É insano viver, mas é preciso.
"Quem quer passar além do bojador
tem que passar além da dor."
(Fernando Pessoa)